Entrevista a Florbela Espanca
Foi em 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa que nasceu a poetisa Florbela Espanca. Mas não entrevistamos somente a poetisa: entrevistamos a mulher que como tantas outras mulheres, tem as suas paixões, a sua maneira de viver a vida e os seus dramas.
Nos seus poemas, relembra-nos repetidamente o que é ser poeta. Qual a razão para tantos dos seus poemas falarem dessa profissão?
Ser poeta é mais do que uma profissão. Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, é morder como quem beija, é ser mendigo e dar como quem seja, é condensar o mundo num só grito. É aquilo que eu sou: uma poetisa. Quero relembrar a todos o que sou e que tenho orgulho em sê-lo. Tenho um astro cá dentro que flameja e tenho fome e sede de Infinito.
Diz no seu Diário que a comove mais o olhar de um animal do que o de um humano. Por que afirma isto? Os humanos não serão merecedores que nos comovamos por eles?
Não, não são. Os humanos têm tudo o que desejam, pois podem falar, podem exprimir-se através das suas palavras e são egoístas, pois querem mais do que aquilo que têm. O meu cão não é assim. Ele não pode falar, mas vejo no seu olhar que há algo que quer dizer e oh! Se eu pudesse escrever aquilo que sinto quando olho para os olhos do meu cão! Há lá dentro uma alma que quer falar e não pode, princesa encantada por qualquer fada má. Num grande esforço de compreensão, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão e pergunto: tu que queres? E os olhos respondem-me e eu não entendo… Ah, como eu gostava de ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar! Afinal… de que temos orgulho nós, gentes?...
Diz que o humano não deve ter orgulho em si próprio, mas revela ter bastante orgulho em si…
Tenho orgulho em mim porque me mantive casta, temendo a mentira e sentindo-a de longe, sendo honesta sem preconceitos. Nunca fui cobarde. Sempre detestei os truques e os prestidigitadores, sempre fui amorosa sem luxúria e viva, exaltantemente viva, a palpitar de seiva quente como as flores selvagens de uma bárbara charneca! E se os outros não me conhecem, eu conheço-me, e tenho orgulho, um incomensurável orgulho em mim!
Foi casada três vezes, mas ainda assim, não se acha bonita. Não acha que esse facto é meramente psicológico?
Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face… E penso: que amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável! Se eu me vejo assim, todos assim me vêem! Casei-me três vezes por me encontrar instável nos meus matrimónios e abortei porque não havia encontrado o amor perfeito. O prince charmant ainda não veio. Quem diz que se pode amar alguém para toda a vida é porque mente!
Diz-se que tinha uma relação muito forte com o seu irmão, até incestuosa.
Guardei dois pedaços do avião em que se deu a tragédia. Foi o maior choque da minha vida e amo muito o meu querido irmão. O meu querido Morto. Sempre pensei nele, é o meu pilar e escrevi-lhe uma carta quando me divorciei. Precisava de me explicar, sabia que nada do que ele me fosse dizer seria a décima parte daquilo que disse a mim própria. Dediquei-lhe “As Máscaras do Destino” e nunca mais fui a Bela Espanca que antes era. Amava-o muito, o meu querido irmão.
É uma pessoa que procura constantemente pelo amor. Será por isso que grande parte dos seus poemas falam de amor, alguns até com uma certa dose de erotismo?
Queria poder conhecer alguém a quem pudesse dizer: E é amar-te assim perdidamente, e é seres alma e sangue e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente… Queria gritar o seu nome numa sede estranha, como se fosse toda a frescura das cristalinas águas da montanha!
Procuro por alguém que tenha voz de primavera, que me diga como lhe sou querida! Mas estarei eu condenada a ser uma eterna isolada? Não sei; Como posso eu saber? Só sei que nenhum humano me enterneceu verdadeiramente. Só os olhos do meu cão me enternecem… Onde já vi este olhar? Talvez noutra vida…
O meu coração errante procura por um lugar para ficar. O meu coração procura o Paço da Ventura… Mas não chega lá decerto, pois não conhece o caminho nem o trilho, nem há memória desse sítio incerto…
Eu tecerei uns sonhos irreais… Como a mãe que viu partir o filho, como esse filho que não voltou mais!
Procuro pelo amor e reflicto isso nos versos que escrevo. O meu coração procura por amor, mas ninguém vem. Ouve-se silêncio, nada, ninguém! E o meu coração põe-se a bater às portas… Mas não abre ninguém! Ninguém! Ninguém! Ninguém!
- Beatriz Silva, nº 7, 10º3
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José Saramago é um roteirista, escritor, jornalista, dramaturgo e poeta Português, a quem ainda foi atribuído o Nobel de Literatura de 1998, e ainda o prémio Camões, considerado o mais importante prémio literário da Língua Portuguesa. Tem como principais trabalhos "Memorial do Convento" , "O Evangelho segundo Jesus Cristo" e ainda "Ensaio sobre a Cegueira".
José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922 e tem 86 anos.
- Beatriz Silva, nº 7, 10º3
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Diversos com Saramago!
Entrevista Realizada em 19/10/09 pela revista "Sobretudo Português".
José Saramago é um roteirista, escritor, jornalista, dramaturgo e poeta Português, a quem ainda foi atribuído o Nobel de Literatura de 1998, e ainda o prémio Camões, considerado o mais importante prémio literário da Língua Portuguesa. Tem como principais trabalhos "Memorial do Convento" , "O Evangelho segundo Jesus Cristo" e ainda "Ensaio sobre a Cegueira".
José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922 e tem 86 anos.
P.P- Hoje encontramo-nos no mundo da alta tecnologia. O senhor disse uma frase que despertou a atenção de muitos, quando definiu a Internet como "uma página infinita". Qual a importância da Internet na sua opinião?
S.R- "Página infinita" era uma definição de algum modo poético que a Internet não tem que me agradecer. O que importa, porém é o que se escreve nela. A tal "página infinita" aceita tudo, aguenta tudo inclusivamente o pior. A liberdade de expressão não é boa nem má por si mesma, mas pelo uso que dela faço.
P.P- Sabemos que tem um blogue. Depois de alguns meses o que pensa dessa ferramenta de comunicação? Será mesmo um revolucionário modo de comunicar?
S.R- A rapidez é a sua grande virtude, mas daí a ser revolucionário vai uma grande distância. Revolucionário foi o telefone, o que veio depois são alongamentos tecnológicos dele, sempre com o mesmo objectivo, que é chegar mais longe e mais depressa.
P.P- Agora falando um pouco dos seus projectos, sabemos que o senhor despede-se praticamente de "O caderno". Isso significa que se alguém bater à porta de "O caderno" não há um feedback da sua parte?
S.R- Para mim as despedidas convinham sempre ser breves; Ainda mais agora, que comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Logo se verá porque , se tudo correr bem, não é preciso ser assim tão radical. Se alguma vez sentirem necessidade de comentar ou opinar sobre algo, podem bater à porta de "O caderno" onde me poderei expressar.
P.P- Isolou-nos de um novo trabalho. Pode-nos revelar o nome do novo livro?
S.R- Sim, chama-se "Caim" e não posso lhe dizer mais nada, Para descobrirem basta paciência e, quando estiver pronto e publicado, deliciaram-se com o meu livro que espero que seja um sucesso.
P:P- Acha que as suas obras vão ser lidas pelas gerações futuras, mesmo depois de falecer,como, por exemplo, daqui a cinquenta anos?
S.R- Quanto a isso não posso lhe responder, porque eu não vejo o amanhã e nessa altura, daqui a 50 anos, acho que já não estarei cá para ver se lêem as minhas obras, se gostam dos meus livros, o que pensam acerca deles etc. Para mim temos de viver o presente, porque o ontem já passou e o amanhã talvez nem chegue, se é que me entende. Nessa altura acho que não irão ler os meus livros, até porque temos as novas tecnologias e o mundo irá ser consumido por elas, na minha opinião. Nesta altura é quase impossível ver alguém a ler livros, por isso suponho que no futuro ainda será pior. Os livros, nessa época, não passarão de aberrações para a maioria das pessoas.
P:P- Uma última pergunta para acabarmos a nossa entrevista. Os prémios que recebeu são importantes para si? O que acha de ser o escritor português que ganhou o prémio Camões, um dos prémios mais importante na literatura portuguesa?
S.R- É claro, todos os prémios que recebi são muito importantes para mim, afinal fazem parte da minha vida, da minha carreira de escritor; E se qualquer escritor recebe um prémio é porque gostaram e apreciaram o nosso trabalho, o que é bastante bom, faz-nos sentir bem e ter vontade e forças para seguir em frente e escrever muitos e mais livros, ainda melhores que o primeiro, se possível, claro. Para mim, ter sido o escritor português a receber o prémio Camões, que é um dos mais importantes prémios da literatura portuguesa, foi um grande orgulho. Ainda me lembro desse dia como se fosse hoje, nunca o irei esquecer, foi um dos melhores dias da minha vida, se é que o posso dizer. Fiquei muito feliz, toda a gente me dava os parabéns e me cumprimentava. Foi um magnífico dia.
P:P- Muito obrigada por esta curta entrevista. Foi um prazer enorme poder estar aqui na sua companhia e (poder) falar consigo. Desejo-lhe muita sorte para o seu novo livro, e cá estarei à espera de o ver nas bancas das livrarias para poder comprá-lo. Muito obrigada, uma vez mais.
S:R- Obrigado eu, também gostei muito de poder conversar consigo, e vou ficar á espera de uma próxima visita. Quando publicar o meu novo livro cá a esperarei novamente.
- Cinthya Pina, nº8, e Liliana Araújo, nº 20, 10º3